sábado, 14 de março de 2009

00:00

Programa Fátima 06.03.2009 - Amamentação Prolongada

Posted by BABS - Filed under
Depois de ter escrito o post sobre a Amamentação Prolongada, tive a oportunidade de ver a gravação da entrevista que deu no Programa Fátima (SIC) no dia 06.03.2009




Depois de ver este conteúdo, não pude deixar de enviar para o programa o meu desapontamento relativamente ao modo como a entrevista foi conduzida...

Foi evidente a falta de informação por parte dos apresentadores, revelando uma falta de preparação para conduzir esta entrevista, e a desinformação por parte da Ginecologista/Obstetra Drª Maria do Céu.

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Eis o meu mail enviado:

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"Olá a todos!

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Sou Conselheira em Aleitamento Materno, Educadora Perinatal e antes de mais sou Mãe...

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Foi com grande desapontamento que vi o programa "Fátima" apresentado pela Merche Romero e Carlos Ribeiro, no dia 6 Março (6ª Feira)...

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Nesse programa, foi feita uma entrevista a uma mãe que continuava a amamentar o seu filho de 7 anos... Para mim, a questão parecia muito simples...

Esta senhora queria deixar de amamentar e pediu ajuda para o fazer.

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O que me deixou completamente chocada, foi com toda a fantasia que se fez à volta deste assunto... tornando esta questão, num caso de ficheiros secretos, apresentado mesmo como "Insólito"...

Nesta entrevista foram dadas informações incorrectas e foi dirigida por pessoas que não estavam minimamente informadas sobre a amamentação... E na minha opinião, pior do que a falta de informação que existe sobre este assunto, é mesmo a transmissão de ideias erradas, principalmente através do meio de comunicação mais mediático de todos, a Televisão!

Vou tentar explicar-me por tópicos (é mais fácil para me organizar)

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*Expor uma criança com 7 anos que ainda mama, dizendo-lhe que tal coisa não é normal, não me parece do ponto de vista pedagógico, o mais saudável para ninguém!

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*Os apresentadores Carlos Ribeiro e Merche Romero, não se informaram (pelo menos o suficiente) para conduzir esta entrevista de forma idónea e séria.

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*A Ginecologista/Obstetra Drª Maria do Céu, não só transmitiu algumas informações completamente erradas, como ainda indicou em directo, um medicamento, dosagem e posologia.

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Vejamos:

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Qual a idade normal até que se deve amamentar um filho?

"O Ideal pela OMS seria até aos 6 meses e não se deve ultrapassar dos 2 anos, mas os 6 meses em principio é o suficiente, porque é aquela fase inicial de adaptação do bebé ao mundo"

- A OMS recomenda que a amamentação até aos 6 meses seja em regime Exclusivo, e depois deve-se continuar a amamentar até aos 2 anos ou mais, respeitando sempre o Binómio Mãe/Filho... Quando 1 deixa de querer (mãe ou filho) deve-se iniciar um desmame... Mas não existe um limite definido, nem pela OMS nem por ninguém... Como mamíferos que somos, deveriamos amamentar os nossos filhos até à idade em que estes deixassem de precisar do leite como alimento, essa idade seria mais ou menos entre os 5-7 anos... Em muitas culturas este é o intervalo considerado natural de desmame, embora se respeite sempre quem amamenta menos ou mais do que estas idades!

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Quais são os perigos de continuar a amamentar para além dessa idade de que falou?

"O perigo é mais psicológico até em relação ao bebé... Além de criar uma grande dependência da mãe em relação ao filho, cria do filho em relação à mãe"

- Não existem estudos que demonstrem que exista realmente algum problema psicológico nas crianças amamentadas depois dos 2 anos... Nas culturas cujo desmame é feito mais tardiamente que os 2 anos, não houve nenhum aumento de crianças problemáticas ou com disturbios psicológicos. Neste caso concreto: Não me pareceu que a criança fosse dependente da mãe por causa da mama, até porque a própria mãe diz que há alturas em que a criança não quer mamar... ele só mama porque a mãe tem dores... Se esta criança tiver realmente algum problema psicológico, não deverá ser concerteza por causa da amamentação... Podemos expecular e colocar como hipóteses mais viáveis, a questão de não ter uma figura paterna, o facto da mãe expo-lo na televisão num assunto que ele considera privado, ou até mesmo a razão que leva a mãe a dar de mamar que não é pelo beneficio nutricional nem como acto de amor, mas sim para que ela própria não tenha dores no dia seguinte...Parece-me a mim que culpar a amamentação dos problemas psicológicos possíveis, é uma maneira muito redutora e muito fácil de apresentar a questão!

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"Por outro lado num caso de um casal, a amamentação é complicado... Porque a mama é um símbolo sexual e depois vira biberão"

-Sou casada há 2 anos e meio (namorei antes de casar 7 anos) e amamento o meu filho há 14 meses... Mesmo que no inicio possa causar alguma confusão entre as duas funções da mama, todas estas questões se resolvem falando e com muito amor...Nenhuma mama vira biberão (esse sim... seria um caso INSÓLITO)... os biberãos é que tentam virar mama... mas não conseguem!!!Além disso, também a Vagina é um símbolo sexual, e não vamos deixar de parir os nossos filhos por causa disso, certo?Nem ninguém deixa de comer e falar, porque a boca também pode ser considerado um símbolo sexual...Quem não consegue conciliar maternidade com a Sexualidade, tem que procurar ajuda... nao é deixar de ser mãe para passar a ser amante ou vice-versa.

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"Além disso há uma hormona que está aumentada, que é a prolactina, durante a amamentação, e essa hormona diminui o desejo sexual ou Líbido, e faz mais secura vaginal, e por isso tem também alguns inconvenientes manter (a amamentação) também tanto tempo"

A Prolactina (Hormona responsável pela produção de leite) pode efectivamente diminuir o desejo sexual e diminuir também a lubrificação vaginal... No entanto os niveis de Prolactina tendem a baixar aos valores que a mulher tinha antes de engravidar, depois dos 6 meses de amamentação (ou um pouco antes no caso de ser introduzida a Alimentação complementar mais cedo)... No entanto, podem não baixar, entre outras razões, se a mãe continuar a dar muitas vezes de mamar durante o dia, ou se esta tiver mesmo algum problema hormonal...Como não estive com a senhora entrevistada, não posso saber qual era efectivamente a sua situação... mas a 1ª hipotese é colocada de lado, uma vez que esta mãe dá de mamar apenas 2 vezes por dia (manhã e à noite).

Além disso, ela própria diz que se não der de mamar à noite, acorda com dores... pode mesmo ser um caso de hipergalactia (produção de leite excessiva)... que pode ser diagnosticada com análises específicas.No entanto, caso esta mãe, tenha realmente diminuição de Líbido (porque ela não disse que tinha), é bem mais provavel que seja por ser mãe solteira, com 4 filhos, desempregada... Nesta situação... quem é que não tem a libido diminuida? Eu teria concerteza mais coisas em que pensar que na minha líbido.

Tal como no ponto anterior... Estas questões resolvem-se falando entre parceiros, com muito amor... e não é preciso deixar de amamentar para voltar a ter vontade de ter intimidade com o parceiro... falo por experiência própria :O)

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Apesar da senhora não ter querido perguntar nada à GO, a Drª Maria do Céu ofereceu a sua ajuda:

"Na minha experiência Clinica, o que eu penso de facto é deve preocupar, ao filho principalmente, porque com 7 anos, psicológicamente, começa a ser complicado (...) Deve-lhe dizer, enquanto estiver a dar de mamar, que lhe doi, e deve mostrar sempre uma cara de dor, para ele perceber que é uma coisa desgradável para si"

Em primeiro lugar, esta mãe incentiva o seu filho a mamar, porque tem dores se não o fizer... Agora, vai dizer ao filho que não pode mamar porque lhe causa dor (que a senhora nem referiu isto...)... E estão preocupados com os problemas psicológicos que possam advir da amamentação? Pois... Com este tipo de mensagens para a criança, é complicado ela não ficar confusa...Imaginem uma criança sentir-se responsável por um desconforto da mãe (ainda para mais sendo ela a única figura de progenitores que ele tem)... não é violento?

Um desmame, seja em que idade for, deve ser sempre feito com calma e muito amor pela criança. Decidir que chegou o fim da amamentação nem sempre é fácil, nem para a mãe, nem para a criança... Por isso mesmo, todo o processo, principalmente quando a iniciativa de desmame parte da mãe, deve ser feito com cuidado, não transmitindo à criança ansiedades, etc...

Além disso, pelo que vi, não me parece que a criança seja obcecada pela mama... uma vez que a mãe diz que ele por vezes nem quer... Por isso, para deixar de dar de mamar, não precisamos de transpor para a criança a responsabilidade da amamentação...

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Da maneira como a Drª Maria do Céu falou, deu a entender que a razão pela qual aquela mãe dava de mamar ao seu filho de 7 anos, era porque a criança queria... quando a razão principal eram as dores que ela (mãe) sentia se não desse de mamar.

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De seguida deu algumas indicações para a secagem do peito...

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*Esvaziar o peito (não todo, porque quanto mais leite retira mais leite produz)

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Mas o que me espantou (ou não... nesta altura da entrevista ja nada me espantaria) foi que esta médica receitou em directo um medicamento (principio activo) a sua dosagem e posologia... "Bromocriptina 2,5mg meio comprimido ao deitar"Para além de não ser correcto, prescrever um medicamento publicamente, esta médica não tem qualquer informação sobre o historial clínico desta senhora... E tal como todos os medicamentos existem contraindicações como podem ver AQUI...

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Além disso, esta senhora, já tinha dito que já tinha tomado uns comprimidos (provavelmente com o mesmo principio activo, que são frequentemente prescritos para a secagem do leite) e que tinha sentido muito sono durante o dia (um dos muitos efeitos secundários possíveis deste medicamento)...

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"E não dá mais de mamar"; "Não lhe de mamar nunca mais a partir de hoje"

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Mais uma vez refere o desmame abrupto como sendo a solução.

Vejam este Texto

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Entretanto, deram oportunidade de uma outra mãe participar na conversa, atraves do telefone...

O Carlos Ribeiro apresentou-a "Temos ao telefone a L. tem uma situação, penso, não tão GRAVE, mas de certa forma é semelhante"

Com esta apresentação é dificil uma mãe não sentir que ao dar de mamar ao seu filho (com mais de 2 anos) está a cometer um erro gravíssimo...

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Esta telespectadora que ligou, mostrou-se francamente preocupada com a sua situação... Essa preocupação foi provocada pelo que ouviu neste programa...Aqui fica a prova, do que informações erradas, em directo, dadas por uma médica, podem causar nas pessoas que vêm o programa...

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Julgo que sendo o Fátima um programa de grande audiência, e com um carisma muito grande, terá obrigatoriamente uma responsabilidade acrescida quando transmite informação...

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Há relativamente pouco tempo atrás, o SOS Amamentação esteve no vosso programa, dando algumas informações úteis sobre amamentação, podiam por exemplo, ao preparar esta entrevista, terem-se informado melhor junto de quem em Portugal luta contra a informação incorrecta...

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E quem diz SOS Amamentação, diz outras instituições igualmente activas na promoção do aleitamento materno, como por exemplo a La Leche League Portugal.

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A ideia com que os telespectadores ficaram: (alguns pelo menos)

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*Basta amamentar até aos 6 meses

*Não se deve amamentar mais do que 2 anos

*Não não quiser amamentar mais, posso tomar Bromocriptina 2,5mg meio comprimido por dia e deixo nesse mesmo dia de amamentar... se não conseguir deixar logo de amamentar, faço cara de dor que o meu filho percebe que eu não gosto de o amamentar

*Amamentar depois dos 2 anos causa problemas psicológicos e isso é grave

*Se quero continuar a amamentar, vou perder o desejo sexual e terei problemas de lubrificação vaginal Sugiro que façam uma rectificação da informação erradamente transmitida...

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A produção tem a responsabilidade de estudar o tema, não permitindo que situações como esta, cheguem a público...

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Há mais mães a amamentar crianças depois dos 2 anos do que vocês julgam... mas se não conhecem estes casos é porque este é um assunto antes de mais privado e íntimo, e depois, porque tendo em conta os julgamentos que fazem (tal como aconteceu no vosso programa) as mulheres não têm coragem de dizer que amamentam ha mais de 2 anos, para não serem criticadas sem fundamento.

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Obrigada pela vossa atenção e aguardo uma resposta ao meu mail

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Melhores cumprimentos"


Não faço ideia se levarão a minha opinião em conta, mas pelo menos sinto que fiz a minha parte... o restante não depende de mim...

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Bjinhos

BABS